Nos últimos tempos, temos ouvido muito sobre ciclos viciosos que permeiam a sociedade, desde o aumento do vício em jogos de aposta, que afeta um número crescente de brasileiros, até as graves compulsões alimentares, como bulimia e anorexia, frequentemente exaltadas nas redes sociais.
Esses comportamentos revelam a complexidade das lutas que muitas pessoas enfrentam em suas vidas. Diante disso, surge a importância de nos questionarmos: o que são vícios e o que são compulsões?
Compreender essas nuances é fundamental para lidar com os desafios que elas impõem à saúde mental e física, uma vez que esses ciclos, muitas vezes incontroláveis, geram sofrimento e impactam negativamente as relações pessoais, sociais e profissionais.
Afinal, o que é vício?
De acordo com a cartilha do Comitê Nacional de Saúde e Qualidade de Vida dos Institutos Federais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define vício como uma doença física e psicoemocional que se manifesta por meio de hábitos repetitivos que geram prejuízos à vida do indivíduo e daqueles que convivem com ele.
O vício pode ser classificado em duas categorias: dependências químicas, como o uso de álcool e drogas, e dependências comportamentais, que incluem atividades como jogos, apostas, compras e o uso excessivo de redes sociais.
Esse comportamento envolve a repetição de ações ou o uso de substâncias, mesmo diante das consequências negativas que isso pode acarretar.
Com o tempo, a pessoa se vê perdendo o controle sobre a situação, desenvolvendo uma necessidade cada vez maior de repetir o comportamento para alcançar o mesmo nível de prazer ou alívio.
Quando os vícios se tornam um problema?
Os vícios se tornam problemáticos quando começam a interferir nas atividades diárias, relacionamentos e no bem-estar emocional do indivíduo. Alguns sinais de que um comportamento pode estar se tornando uma dependência incluem:
- Perda de controle: incapacidade de reduzir ou interromper o comportamento, apesar de tentativas conscientes;
- Sintomas de abstinência: sentimentos de ansiedade, irritabilidade ou depressão quando não se pode acessar a substância ou atividade;
- Prejuízo funcional: o comportamento afeta negativamente a vida pessoal, profissional ou social, levando ao isolamento ou ao comprometimento de responsabilidades;
- Uso em excesso: o tempo gasto na atividade ou consumo da substância é desproporcional em relação aos benefícios percebidos, levando a um ciclo de compulsão.
Vício é a mesma coisa que compulsão?
Segundo Dalgalarrondo (2008), os atos compulsivos são reconhecidos pelo próprio indivíduo como indesejáveis e inadequados, com uma constante tentativa de resistir ou adiar sua realização.
Esses atos podem variar de ações simples, como arranhar-se, a rituais complexos, como a lavagem repetitiva das mãos. Embora a compulsão ofereça alívio temporário, ela é geralmente seguida pelo retorno do desconforto, criando um ciclo difícil de romper.
Os comportamentos compulsivos são egodistônicos, ou seja, são percebidos como contrários aos valores pessoais, intensificando a angústia do indivíduo. A luta interna é marcante, pois a pessoa tenta resistir ao impulso, diferentemente do que ocorre em um ato impulsivo, que se dá sem reflexão.
O alívio após a realização do ato é efêmero, levando rapidamente ao desejo de repetição. Além disso, esses comportamentos estão frequentemente associados a ideias obsessivas que geram ansiedade.
Impulsividade e compulsão: qual a diferença?
Enquanto as compulsões envolvem uma luta interna, onde a pessoa tenta resistir ao comportamento repetitivo, a impulsividade é caracterizada por ações imediatas, sem que o indivíduo faça um esforço consciente para refrear o impulso.
A impulsividade se manifesta em decisões e comportamentos rápidos e sem planejamento, muitas vezes levando a consequências negativas.
Ao contrário das compulsões, que são geralmente reconhecidas como indesejáveis, os atos impulsivos costumam ocorrer sem uma análise prévia de suas implicações.
Malefícios dos vícios
As características dos vícios podem resultar em consequências devastadoras na vida de um indivíduo, impactando significativamente sua saúde e bem-estar.
O uso excessivo de substâncias, como álcool ou drogas, está associado a doenças crônicas, problemas cardiovasculares e complicações no sistema imunológico, comprometendo a saúde física de maneira severa.
Além do mais, comportamentos como o vício em jogos de aposta ou compulsões alimentares estão frequentemente relacionados a altos níveis de estresse, ansiedade e depressão, intensificando o sofrimento emocional e a sensação de solidão.
Um fenômeno contemporâneo observado com crescente frequência, citando caso análogo, é a dependência de internet, que inclui o uso excessivo de jogos, redes sociais, sites eróticos e plataformas de compras.
Conforme abordado no livro “Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais”, diversos fatores de risco estão associados à dependência de internet e videogames.
Esses fatores incluem ser do sexo masculino, ter uma idade mais jovem, apresentar uma renda familiar mais alta e dedicar um tempo excessivo online, especialmente em aplicativos de jogos e redes sociais.
Para mais, características como neuroticismo e solidão também contribuem para o desenvolvimento dessa adversidade. Muitas vezes, esses indivíduos apresentam sintomas comórbidos, como depressão e ansiedade, além de outros distúrbios psicopatológicos.
Como vencer os vícios
Superar vícios é um processo desafiador, frequentemente marcado por obstáculos emocionais e comportamentais.
Embora a luta contra esses comportamentos possa parecer solitária e angustiante, é fundamental lembrar que a mudança é possível. A psicologia positiva oferece estratégias eficazes para auxiliar nesse percurso.
Como afirmado por Martin Seligman em seu livro “Florescer: uma nova compreensão da felicidade e do bem-estar”, esse movimento científico se concentra nas qualidades humanas e no funcionamento positivo do cérebro, promovendo a felicidade e a satisfação com a vida.
Os cinco pilares da Psicologia Positiva — emoções positivas, engajamento, relacionamentos, significado e realização — são essenciais para o bem-estar e podem ser aplicados na superação de vícios.
Cultivar emoções positivas, a título de exemplo, pode ajudar a desviar a atenção dos comportamentos prejudiciais, enquanto o engajamento em atividades significativas cria uma nova perspectiva e promove relacionamentos saudáveis.
Dessa forma, o primeiro passo para a transformação é o autoconhecimento e a autoconsciência. Compreender os próprios sentimentos, gatilhos e padrões de comportamento é essencial.
Essa reflexão sobre motivações e consequências cria uma base sólida para a mudança, permitindo que o indivíduo identifique momentos de vulnerabilidade e reconheça as situações que o levam a agir de maneira compulsiva.
Ademais, definir metas realistas é crucial. Estabelecer objetivos específicos e alcançáveis ajuda na recuperação, pois o foco em pequenos passos constrói confiança e promove um senso de realização ao longo do caminho.
Procurar suporte de amigos, familiares ou grupos de apoio pode fazer uma diferença significativa na jornada de recuperação. O compartilhamento de experiências e o suporte emocional proporcionam um ambiente acolhedor, onde o indivíduo se sente compreendido e apoiado.
As práticas de autocuidado não devem ser negligenciadas. Cuidar da saúde física e mental é vital para fortalecer a resiliência emocional. Atividades como exercícios físicos, alimentação saudável e um sono adequado são fundamentais para o bem-estar geral, criando uma base sólida para enfrentar os desafios.
Por fim, a intervenção psicoterapêutica desempenha um papel crucial nesse processo. A psicoterapia positiva oferece um espaço seguro para explorar os desafios enfrentados, promover o bem-estar e desenvolver habilidades de enfrentamento.
Buscar ajuda profissional é um passo importante para quem deseja vencer vícios e compulsões, pois um terapeuta pode orientar e apoiar o indivíduo na construção de estratégias personalizadas para sua recuperação.
Se você ou alguém que conhece está enfrentando dificuldades, estou aqui para ajudar. Agende uma consulta e vamos trabalhar juntos para melhorar sua qualidade de vida. Clique abaixo.
Como vimos ao longo do texto, os vícios são desafios que merecem nossa atenção e compreensão.
Eles não se limitam a comportamentos isolados, mas se entrelaçam com as nuances da saúde mental e emocional, impactando a qualidade de vida e as relações interpessoais. Reconhecer a complexidade dessas questões é o primeiro passo para enfrentá-las.
A boa notícia é que, com autoconhecimento e apoio, é possível romper esses ciclos viciosos. A psicologia positiva nos oferece ferramentas e estratégias que podem facilitar essa jornada de transformação.
Ao buscar ajuda profissional e desenvolver uma rede de suporte, os indivíduos podem encontrar caminhos para uma vida mais plena e satisfatória.
Lembre-se de que não estamos sozinhos nessa luta; existem recursos e pessoas dispostas a ajudar.
Se você ou alguém que você conhece enfrenta esses desafios, saiba que a recuperação é possível e que cada passo em direção ao bem-estar é um avanço significativo.